Risco de intoxicação por metanol 09/10/2025 - 11:30
O consumo de álcool não registrado — ou seja, aquele produzido, distribuído ou vendido fora do mercado legal — constitui um risco significativo para a saúde na Região das Américas. Até 2021, aproximadamente 13,8% do álcool consumido na região não é contabilizado pelos sistemas oficiais, o que inclui bebidas informais, produtos caseiros, álcoois substitutos (adulterados com limpadores de para-brisa, enxaguantes, anticongelantes, álcool combustível) ou importações ilícitas. Essas formas de álcool são geralmente menos regulamentadas e podem conter contaminantes perigosos, como metanol ou metais pesados, que aumentam o risco de cegueira, danos neurológicos ou morte, mesmo em doses relativamente baixas.
O metanol (também chamado de álcool metílico) é um tipo de álcool geralmente usado como aditivo em combustíveis e também na fabricação de produtos químicos básicos, como solventes, líquidos anticongelantes e limpadores de para-brisa. É muito difícil diferenciar o metanol do etanol pelo cheiro ou sabor. No entanto, o metanol é muito mais tóxico que o etanol, pois o corpo humano é menos eficiente em metabolizar o metanol do que o etanol e, além disso, gera metabólitos tóxicos. Após a ingestão, as enzimas hepáticas transformam os subprodutos do metanol em ácido fórmico e afetam vários órgãos, produzindo hipóxia tecidual e acidose láctica. Os sintomas de envenenamento podem ocorrer com volumes menores de metanol (por exemplo, 60-240 ml) do que de etanol, porque o corpo é mais eficiente em decompor e eliminar o etanol do corpo. O consumo de álcool adulterado ou produzido informalmente representa um perigo adicional ao associado ao consumo excessivo de etanol. Os surtos de intoxicação afetam a confiança nos produtos locais e a segurança percebida nos destinos turísticos.
Entre 2020 e 2025, foram registrados na América Latina vários surtos de intoxicação por metanol associados ao consumo de bebidas alcoólicas adulteradas. Por exemplo, em 2020, o México notificou um surto no estado de Jalisco com 81 casos confirmados, nove hospitalizados e 27 mortos, principalmente homens adultos residentes em áreas rurais. Nesse mesmo ano, a República Dominicana reportou um evento semelhante por consumo de bebidas alcoólicas adulteradas, com 322 casos confirmados e 199 mortos. Em 2022, o Peru reportou um aumento sustentado de casos, com 372 notificações em nível nacional e 156 mortes, afetando seis regiões do país. Mais recentemente, em 2025, a Colômbia informou 89 casos de intoxicação por metanol, com um surto concentrado na cidade de Barranquilla e casos adicionais em outros departamentos. Nos últimos cinco anos, o Brasil registrou uma média de 23 casos por ano. Em 2025, de agosto a 5 de outubro, foram notificados 225 casos suspeitos de intoxicação por metanol, dos quais 16 foram confirmados (dois no Paraná e 14 em São Paulo). Os casos suspeitos foram registrados em 13 unidades federativas: Distrito Federal (n= 1), Goiás (n= 2), Mato Grosso do Sul (n= 5), Mato Grosso (n= 1), Pernambuco (n= 10), Paraná (n= 4), Rondônia (n= 1), São Paulo (n= 192), Piauí (n= 2), Rio Grande do Sul (n= 2), Rio de Janeiro (n= 1), Paraíba (n= 1) e Ceará (n= 3). Quanto às notificações de óbitos, foram registradas 15 notificações, com dois óbitos confirmados no estado de São Paulo e 13 sob investigação.
Diante do risco de intoxicação por metanol associado ao consumo de bebidas alcoólicas adulteradas, a OPAS/OMS insta os Estados Membros a adotarem medidas para a vigilância, o controle do mercado de álcool não registrado e a preparação dos serviços para o atendimento oportuno desses eventos.
Uma alta suspeita clínica permite identificar casos em fases iniciais, em pessoas que apresentam sintomas compatíveis entre 2 e 48 horas após o consumo de bebidas alcoólicas de origem informal, a granel ou sem registro sanitário, embora ingestões elevadas possam ter manifestações em poucos minutos. Os sinais iniciais podem incluir náuseas, vômitos, cefaleia e tontura. Posteriormente, podem se manifestar alterações visuais (visão turva, fotopsia, escotomas) que podem progredir para cegueira. Em fases avançadas, observa-se comprometimento neurológico (confusão, letargia, convulsões) e falência multiorgânica, frequentemente associada a acidose metabólica com aumento da lacuna aniônica e osmolar. Também é fundamental capacitar os profissionais de saúde no reconhecimento precoce dos sinais clínicos de intoxicação por metanol e no manejo adequado dos casos, com ênfase na prevenção de sequelas graves, como a cegueira.
Em caso de qualquer suspeita de intoxicação por bebidas, procure imediatamente atendimento médico.
Leia na íntegra: https://www.paho.org/sites/default/files/2025-10/2025-out-07-phe-alerta-intoxicacao-metanol-pt-final.pdf